033 – Flores – Lagoas Negra, Comprida, Seca e Branca
Eu estou sentada na beira da Lagoa da Lomba (a minha localização está identificada pelo triângulo azul) e quero ir para o grupo das Lagoas Negra, Comprida, Seca e Branca. Ficam perto umas das outras.
A ilha do Corvo lá ao fundo! Que imponência!…
Sobre a ilha das Flores, e a propósito desta imponência do Corvo, li o seguinte numa das placas dum Centro de Interpretação que irei visitar daqui a uns dias, noutra ilha:
A ilha das Flores, com uma superfície de 141 km², situa-se no Grupo Ocidental e constitui o território mais ocidental da Europa.
A característica geológica mais marcante desta ilha, onde não se evidencia a presença de um edifício vulcânico de grandes dimensões (como por exemplo na vizinha ilha do Corvo), reside na presença de diversas crateras de explosão associadas a erupções hidromagmáticas e que foram responsáveis pela formação de maars (como a Lagoa Funda e a Lagoa Seca) e anéis de tufos (como a Caldeira Branca).
Do mesmo modo, as importantes bacias hidrográficas existentes nesta ilha (como é o caso das ribeiras da Badanela e de Santa Cruz) e a presença de diversos cones vulcânicos antigos, modelaram uma paisagem marcada pela presença de inúmeras chaminés vulcânicas e filões aflorantes, enquanto que ao longo do litoral são várias as exposições de disjunções prismáticas e esferoidais em escoadas lávicas e as grutas de erosão.¹
O discurso complica-se ali a certo ponto, mas deve ser difícil explicar uma paisagem vulcânica sem usar os termos corretos. Uma disjunção prismática será uma coisa interessante, de certeza. O “maars”, vejo na internet, é uma cratera vulcânica alargada e pouco profunda criada por uma erupção – uma explosão de vapor causada pelo contacto da água subterrânea com lava ou magma². Ok!
Estava eu entretida nesta sessão fotográfica, com um trânsito e um movimento impossíveis que quase me esmagavam a máquina fotográfica, no meio da estrada, como se pode constatar pela foto, quando avisto um ciclista lá em cima!
Com a pressa de apanhá-lo, nem tirei uma fotografia decente, ficou tremida. Estou com a distância focal máxima da minha objetiva – 140 mm – tenho que estabilizar bem as mãos, ou então aumentar a velocidade do obturador. Tive lá tempo para essas coisas todas. Tinha a máquina no chão, foi o tempo de correr para ela, levantá-la, focar e disparar, antes do ciclista estar cá em baixo, à velocidade a que ele vinha.
Chama-se Luc Dansan, é francês, e vive aqui na ilha das Flores há vinte anos. Faz habitualmente 60 km na bicicleta; mora em Santa Cruz e vem de lá.
Sessenta km poderia não ser nada, não fossem as fortes subidas e descidas desta ilha. São 600 metros de repente, a pique.
O Luc vai mudar de casa daqui a dois meses, e vai morar para a ilha de São Miguel. Ena, deixar a ilha das Flores ao fim de vinte anos, exclamei eu. E São Miguel é muito agitada, comparativamente às Flores. É uma escolha também ligada às infraestruturas médicas, explicou-me. As pessoas aqui nas Flores quando precisam de um médico, de um exame, de uma operação, têm que ir para São Miguel. Por vezes vêem-se pessoas em cadeiras de rodas nos aviões, a serem içadas pelos funcionários do aeroporto para conseguirem viajar no avião. Sim, eu vi isso precisamente – não é fácil estar doente, precisar de médicos e exames, e ainda ter de viajar de avião para ir ao hospital, com todas as complicações e restrições de segurança dos aviões – líquidos, objetos, bagagem de mão… Uma chatice.
O Luc trabalhou na Base Francesa das Flores, casou com uma açoriana, e está a precaver o futuro. E está contente com a sua nova casa, numa zona tranquila perto de Ponta Delgada, contou-me.
Despedimo-nos, após esta inesperada conversa no meio da estrada (não é todos os dias que me cruzo com um ciclista de BTT, normalmente têm todos bicicletas de estrada, aquelas com pneus finos) e prosseguimos viagem, cada qual para seu lado.
Estão a pincelar o parapeito da Lagoa Seca com aguarrás e óleo de linho, responderam-me, quando eu lhes perguntei (eu tenho que bisbilhotar tudo…).
Eis a Lagoa Seca.
A Lagoa Branca.
E agora vou para as Lagoas Negra e Comprida.
A Lagoa Comprida.
Turistas! Um bicho raro hoje em dia!
A Lagoa Negra.
As duas lagoas – Negra e Comprida – lado a lado.
Reza assim o site do Geoparque Açores:
Estas estruturas vulcânicas localizam-se no Planalto Central da ilha das Flores e constituem crateras de explosão denominadas de maars, associadas a erupções hidro magmáticas nas quais o magma em ascensão contacta com água, originando uma atividade explosiva e a formação destas depressões. Em redor da Caldeira Branca há um anel de tufos e no fundo das crateras existe uma lagoa, com exceção da Caldeira Seca (daí o seu nome). Na Caldeira Negra, a profundidade da massa de água atinge 108 m (a mais profunda dos Açores), o que também justifica a designação de Caldeira Funda. Em todo o geossítio é possível desfrutar das bonitas panorâmicas que esta geopaisagem oferece, quer junto às crateras, quer do cimo do Morro Alto, de onde se pode observar uma parte significativa do planalto central, atravessado por diversas linhas de água, pouco profundas e de fundo plano. Este é um geossítio prioritário do Geoparque Açores, com relevância nacional e significativo valor científico, pedagógico e geoturístico.³
Creio que em viagens anteriores eu não mostrava este detalhe. Nomeadamente do tempo em movimento e do tempo parada. Este ano decidi mostrar, para se ter a verdadeira noção do tempo que eu estou parada. Eu posso lá fazer estes espantosos caminhos sempre a andar. Eu tenho que parar. Contemplar. Respirar. Viver.
Desta vez tive um turista para tirar-me esta foto, não foi necessário o tripé.
O trilho não é por aqui – aquela cruz indica que não é por aqui – mas eu não estou a fazer o trilho, eu estou a seguir o meu GPS. Nem sempre coincidem. Tenho agora o meu último destino de hoje: a Cascata do Poço do Bacalhau.
O GPS quer que eu me meta por aqui. Estarei a ver bem o mapa?
É o caminho pedestre, este. Gostaria de seguir por trilhos.
Estão a ver a linha azul em baixo, com os 600 metros de descida? Foram estes 600 metros – de subida – que eu não quis fazer hoje de manhã e contratei um táxi para pôr-me cá em cima.
Se bem que a descida deve ser muito abrupta para fazer em trilhos com a bicicleta. Eu posso descer, mas com a bicicleta poderá ser complicado.
Esquece, Rute.
Tenho que ir pela estrada.
Como vêem, o caminho para bicicletas é bastante diferente do pedestre, que mostrei acima. É quase o dobro da distância. Mas vou fazê-lo num terço do tempo, certamente.
¹ “Ilha das Flores” (s.d.) Placa exposta no Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos, Faial, julho 2020.
² “Maars” (s.d.) Wikipedia. Página consultada a 27 outubro 2020,
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Maar>
³ “Caldeiras Negra, Comprida, Seca e Branca” (s.d.). Geoparque Açores. Página consultada a 27 outubro 2020,
<https://www.azoresgeopark.com/geoparque_acores/geossitios.php?id_geositio=10>