23 – Em Fuga do Gospel
Este episódio de fuga ainda hoje faz-nos rir por tudo o que se passou ali dentro. Eu não imaginava que fosse tão real, esta cerimónia do Gospel. Pensava que era uma coisa para turista ver. Mas não, é mesmo a cerimónia que se realiza todos os domingos, haja turistas ou não. O público é 100% afro-americano, e o vestuário e o cuidado com o aspeto é rigoroso. Quase que me senti mal, eu com os meus calções e camisa de alças. Depois chegou a parte de nos abraçarmos todos e de dizermos que nos amamos, e foi com surpresa, na nossa fria cultura ocidental, que nos vimos no meio de gritos de êxtase aos abraços e aos beijos àquela gente toda, brancos e pretos, e trocar muitos “I love you”. O meu namorado tinha um gigante alemão ao seu lado, e abraçá-lo exigiu uma certa distensão muscular. Nós perdidos de riso, claro, mas tentando manter a solenidade do momento. Em grande esforço nos contínhamos, sobretudo ao rever o abraço com o rapaz alemão – um tão grande, colossal, e o outro parecendo tão pequeno nos seus braços, dois totais desconhecidos, com as namoradas ao lado, e dispensando ambos a parte do “I love you”.
Mas como fugir sem ofender os cantores do Gospel e os restantes ali presentes? Todos virados para a frente, todos a cantar e a rezar, e eis que dois mariolas brancos florescentes saem do lugar e começam a caminhar para trás, para a porta de saída. Foi preciso ganhar coragem e planeámos a coisa um bom bocado antes.
Quando acabarem esta parte, arrancamos.
É agora.
O meu namorado saiu, quase tropeçou em mim, pois eu é que estava do lado de fora, junto ao corredor, e eu fui atrás. Um das senhoras olhou-nos, triste. Eu sorri-lhe, como que dizendo – nada disso, não fique triste que não vale a pena. A gente é que não liga a estas manifestações religiosas. E ainda por cima temos o tempo contado em Nova Iorque, não podemos ocupar uma manhã inteira com algo que afinal não ligamos.
Mas elas cantavam muito bem o Gospel. Era lindo e senti a energia, sem dúvida. A meio da cerimónia circularam dois ou três indivíduos pedindo dinheiro. Foi interessante ver os mais de sessenta turistas a depositarem as notas no recipiente, o qual passou rapidamente entre os locais sem qualquer doação.
Já na rua rimo-nos às gargalhadas e imitámos o guia gay, um rapaz bem simpático e acolhedor, a procurar por nós: “Guuuys!…”
Cortes no metro anunciados em inglês e em espanhol. Conforme referido numa crónica anterior, Nova Iorque tem 19,3 milhões de habitantes. Completando um pouco mais esta informação: 66% são brancos, 16% são negros e 7% são asiáticos. 17% são hispânicos, independentemente da raça¹. Praticamente todos os anúncios que existem no metro estão traduzidos para espanhol. Para quem não domina o inglês e deseja ir a Nova Iorque, pode ficar à vontade pois o espanhol é corrente, inclusivamente nas lojas e restaurantes.
¹ U.S. Census Bureau (s.d.), “2010 Census Interactive Population Search – New York”. Página consultada a 02 de Setembro de 2012,
<http://2010.census.gov/2010census/popmap/ipmtext.php?fl=36>.