089 – Visita a uma Escola Secundária & Artes e Cinema em São Tomé e Príncipe

Estou prestes a chegar a Agostinho Neto, são 8h40 e tenho cerca de 20 km na bicicleta, não registei o número certo. Ora este edifício é uma escola novinha em folha. Vou lá bisbilhotar.

Esta escola foi inaugurada em Setembro de 2018. Esta minha viagem decorre em Julho de 2019, recordo.

A professora Maria Madredeus Ceita. Só espero estar a escrever bem o nome. Não consegue falar descansada ao telemóvel porque eu estou a tirar-lhe fotos e a meter-me consigo, juntamente com o sub-diretor Mohamed Castelo David – na foto abaixo – que veio ver o que anda uma ciclista a fazer aqui.

Estão a decorrer as matrículas, pelo que há vários professores a trabalhar. Aqui é a professora Garcibelle.

Frequentam esta escola 1.600 alunos entre o 8º e o 12º ano, explica-me o professor Mohamed. Aqui nesta mesa está o professor Wilson Varela e a professora Nelsy Afonso.

O professor Mohamed com o professor José Moreira.

Os professores Lizete Moreira e Gilkson Tiny.
Como serão os alunos santomenses? Portar-se-ão bem? Darão algumas dores de cabeça a toda a equipa de professores?

Depois de fotografar tudo e todos, é altura de seguir viagem em direção à Roça Agostinho Neto. Mas antes disso ainda abasteço de combustível.

Aproveito a visita a esta magnífica escola, onde estão a formar-se os futuros quadros do país – hoje ainda são pequeninos (vá lá, os do 8º ano são, os restantes já são muito grandes, pronto 🙂 ) – mas amanhã serão ministros e presidentes; como eu ia a dizer, aproveito esta visita para falar de arte. Mais propriamente da sétima arte: cinema. Porque destas escolas não saem só ministros, saem artistas também. Estão aqui em ebulição, a desenvolverem as suas capacidades e aptidões. Escola de cinema ainda não há em São Tomé e Príncipe, e em princípio não haverá tão cedo, é necessário continuar a formação, após o liceu, fora do país, em universidades estrangeiras, porém o cinema em São Tomé e Príncipe já existe. De autores santomenses. Há um festival de cinema, o “São Tomé Festfilm” – Festival Internacional de Cinema de São Tomé e Príncipe, que teve quatro edições anuais, a última em 2018. Alguma coisa se terá passado em 2019, pois não se realizou. Nesta última edição de 2018, foram recebidas mais de 400 inscrições, e foram selecionados 28 filmes vindos de 13 países (além de São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau, Timor Leste, Alemanha, França, Estónia, Espanha, Brasil, México e Portugal), que competiram em quatro categorias: longa-metragem, documentário, curtas de animação e curtas de ficção.

O site do São Tomé Festfilm indica todos os nomeados e vencedores nas quatro edições, e surgem nomes como Silas Tiny, Hamilton Trindade (o criador e diretor do festival), Nilton Medeiros, Santos Trindade – todos com documentários, e ainda a vencedora de 2018 em ficção, com a curta-metragem “Mina Kiá” – Kátia Aragão.

E melhor de tudo: o filme “Mina Kiá” (literalmente, “menina para criar”) foi recentemente disponibilizado no You Tube:

Mina Kiá – You Tube (20 minutos)

Citando um jornal santomense:
Mina Kiá conta o percurso de Tónia, uma menina sonhadora, que é enviada para a casa dos tios na cidade, onde passa a sofrer maus tratos.
A realizadora indica que com este filme pretende provocar o debate sobre um tema tabu e sensibilizar as pessoas para este fenómeno, levar à mudança de mentalidades e incentivar a luta pelos direitos das mulheres e pela igualdade de género, que ainda está longe de ser alcançada. “O fenómeno “mina kiá” acaba por ser também uma das causas do abandono escolar feminino precoce, e nesta curta, eu optei por mostrar o empoderamento da menina/mulher através da educação. Portanto, a “minha” mina kiá não deixa de estudar”, contou Katya Aragão.
As filmagens aconteceram no sul da ilha de São Tomé – Porto Alegre – e na capital são-tomense.
A atriz, Ana Pinheiro, disse que foi interessante interpretar o papel de Tónia pela sua emocionante história de vida e também por ser o seu primeiro papel como protagonista. (…) Disse ainda que o maior desafio foi fazer a cena da violação porque foi muito intensa e exigiu muito dela a nível emocional.¹

O filme já circulou entretanto em festivais em Portugal, Brasil, Moçambique, Cabo Verde, Bélgica, Macau, Timor Leste, Angola, Guiné-Bissau, Polónia e Alemanha.

Ainda nas artes, de destacar também a criação da primeira escola informal de artes visuais em São Tomé e Príncipe: o “Ateliê M”, pelo pintor Kwame Sousa. A escola foi inaugurada em 2018, e neste vídeo podem ver-se os trabalhos dos alunos finalistas do primeiro ano, apresentados pelo próprio pintor Kwame Sousa.

Há uma estrada alcatroada até Agostinho Neto. Mas eu recordo que estou a usar uma aplicação gratuita chamada “Maps.me” em que escolho propositadamente caminhos de BTT, ou seja caminhos de terra para bicicleta de montanha.


¹ “Katya Aragão mostra os bastidores do filme Mina Kiá” (2017, 14 junho). STP Digital. Página consultada a 13 janeiro 2020,
<https://stpdigital.net/2017/06/14/katya-aragao-mostra-os-bastidores-do-filme-mina-kia/>

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