109 – Graciosa – Santa Cruz & Regresso à Praia de Bicicleta
A minha localização está identificada pela seta azul. O meu destino está identificado pela bandeira axadrezada. Optei novamente por um caminho pedestre (o “peão” está selecionado, na parte de cima). Já se sabe que é um risco, pois poderei ter muros para saltar, escadas, ou ir em contramão. No entanto se selecionar o caminho para bicicletas, manda-me pela estrada principal – aquela linha cor de laranja. Jamé!
Na linha azul em baixo, vêem-se as subidas e descidas neste percurso. São 6 km, tenho ali um pico a meio, e são 160 metros de subida acumulada.
Bute Rute.
Há pouco chovia, agora está toda a gente na esplanada.
E nas piscinas naturais!
Esta é a zona balnear da Calheta.
O Barracão das Canoas Baleeiras, que visitei na crónica anterior, é aqui nesta rua.
No canto superior esquerdo está o Fortim da Calheta (Farolim), uma das fortalezas construídas aqui na ilha Graciosa para fazer frente às investidas do corso atlântico. Leio o seguinte na internet:
Em 1623, a Graciosa é atacada por mouros oriundos do norte de África e, em 1691, por piratas ingleses. A prática corsária e a insularidade da ilha conduziram à constituição de um sistema defensivo terrestre e marítimo. A constituição de Ordenanças Militares data de 1560 e, na frente costeira, foram construídas várias fortalezas, como o Forte da Barra (atual Clube Naval); Forte de Santa Catarina (em estado de ruína); ou o Fortim da Calheta (Farolim).¹
Igreja Matriz de Santa Cruz da Graciosa, do século XVIII.
A construção desta igreja durou cerca de dois séculos, misturando o estilo manuelino português e os estilos barroco da arquitetura. Foi uma das primeiras igrejas na Graciosa.²
Igreja da Misericórdia / Igreja e Hospital do Santo Cristo.
Igreja construída no século XVII e reformada no século XIX, adossada a hospital quinhentista, pré-existente e dedicado ao Espírito Santo. De facto, existem referências documentais ao hospital já em 1510, mas a instituição da Irmandade da Misericórdia só ocorreu em 1600.³
Portanto, nesta linguagem formal da Direção-Geral do Património Cultural, ficamos a saber que colado à igreja existia um hospital, muito antigo. Em 1510 já existiam referências escritas e ele. A igreja é posterior, é do ano 1600.
Adicionalmente encontro estas informações na internet:
Embora não haja referência a personalidades naturais da terra que se distinguissem, houve algumas que passaram pela ilha Graciosa, destacando-se o padre António Vieira, que viveu na ilha dois meses quando o barco em que seguia naufragou, em 1654; Almeida Garrett, que residiu na ilha algum tempo com um tio, quando tinha 15 anos, em 1814; o escritor francês Chateaubriand, que passou algum tempo na ilha aquando da sua fuga durante a Revolução Francesa para a América, e Alberto do Mónaco, um estudioso da vida marinha e da hidrografia, atraído pelo fenómeno das furnas de enxofre da Graciosa.⁴
O padre António Vieira pregou nesta igreja. O padre António Vieira veio parar à ilha Graciosa porque viajava do Brasil para Portugal e o seu barco naufragou. Foi então acolhido por uns corsários holandeses, os quais o largaram aqui na Graciosa.⁵
A Escola Primária.
Aqui é o Bairro Social Conde de Simas. Vejo na internet que são atribuídas aqui casas a pessoas carenciadas. E agora já sabemos quem é o Conde de Simas (crónica 107).
O GPS diz-me que é por aqui. Tenho que passar aquela cancela e saltar muros.
Não há caminho nenhum aqui, o GPS está enganado. Conforme referi anteriormente, a mapeação dos Açores – pela Google, pela OpenStreetMaps e por essa gente toda, está numa fase incipiente.
Os dois turistas do Museu da Graciosa, o Gustavo e o António, falaram-me dum caminho por terra até à Praia. Eles fizeram-no. Eu vi os sinais mais atrás de “trilho pedestre”. Vou voltar um pouco para trás e tentar essa via.
Cá está o trilho oficial. É para pedestres e fazem questão que isso seja claro, com estas cancelas. O Gustavo e o António falaram-me delas. Mas eu peguei na bicicleta no ar e passei-o.
Estas duas vacas pretas trataram de mudar os meus planos. Eu venho da ilha Terceira, onde vi muito gado bravo, e estas duas vaquinhas assustaram-me. Tenho sei lá quantas cancelas e muros para saltar. Mas a fugir de vacas bravas é que não. Serão bravas ou mansas? É melhor não testar. Pisguei-me.
Pronto, voltei à estrada, ao cruzamento do Bairro de Simas. É só uma parte. Talvez dois quilómetros. Depois regresso a caminhos secundários. Na imagem do Maps.me, acima, dá para perceber isso.
Mas não gosto nada de ir pela estrada. Os carros passam rente a mim e eu não tenho onde refugiar-me.
Já estou numa estrada secundária, quase sem movimento. Esta vaquinha veio espreitar-me. Parei e cantei-lhe:
Uma vaquinha muito linda que anda aqui a passear!…
Então veio outra espreitar. E eu cantei-lhe também:
Duas vaquinhas muito lindas que andam aqui a passear!…
São quatro, afinal! Cantei a todas:
Umas vaquinhas muito lindas que andam aqui a passear!…
Mas quantas são, afinal?!… Vieram todas espreitar. Nunca tinha visto vaquinhas desta perspetiva: de baixo. Normalmente estamos à mesma altura.
Eu continuei a cantar-lhes:
Umas vaquinhas muito lindas que andam aqui a passear!…
E no meio deste cantorio todo, elas responderam. Nesta imagem vê-se aquela vaquinha a mugir.
Ainda estive algum tempo a cantar-lhes, e elas a responderem. Foi um grande cantorio. Coitadinhas, tão lindas. Isto de as comermos está a comunicar-me com os nervos.
Temos de concordar que ficou original. Alguém acrescentou a palavra “Mortos”. Dirijo-me para a Vala de Mortos, portanto.
O meu moinho já se vê ali em baixo! Com a sua cúpula vermelha! Junto ao pontão.
Mais vacas pretas! Serão bravas? Se elas de espantam comigo, ainda saltam a vedação e vêm a correr atrás de mim. Vou acelerar!! A estas não canto!!
A entrar numa povoação chamada Lagoa, e que se vê no mapa acima, do GPS.
Ora aqui estão uns graciosenses, na Lagoa, a passar o final de tarde em amena conversa. São 19h. Não estão à espera do autocarro, não.
São eles, da esquerda para a direita:
Norberto Silva
Leontina Maria
Maria Élia
Maria de Jesus
Maria Guiomar Ávila
Todos nascidos na ilha Graciosa. Sempre viveram aqui. A Maria Élia e a Maria de Jesus também viveram uns tempos no Canadá.
Tirar esta foto foi uma galhofa. Não ficou boa à primeira, tivemos de repetir. Ainda houve aqui muitas gargalhadas, e eu para trás e para a frente, com a máquina no chão, no tripé, a tentar apanhar-nos bem a todos.
Despedi-me daquele simpático grupo de graciosenses, depois daquele momento divertido, e estou agora a chegar à Praia. Aquele é o ilhéu da Praia, uma importante reserva natural e zona de proteção especial para aves marinhas. Leio o seguinte na internet:
Em Setembro de 2007, a ilha Graciosa passou a fazer parte da Rede Mundial de Reservas da Biosfera da UNESCO. Tal reconhecimento reflete as características ambientais, patrimoniais e culturais únicas da ilha Graciosa de que são singular exemplo as significativas colónias de aves marinhas que nidificam nos seus ilhéus; a Furna do Enxofre, imponente caverna lávica; a peculiar arquitetura rural promotora da denominada “casa da Graciosa” e a “Arquitetura da Água”, original expressão da carência de água que sempre fustigou as gentes da ilha Graciosa.
Mas são sem dúvida os ilhéus o que maior valor acrescentou à feliz candidatura da ilha a Reserva da Biosfera. Constituindo importantes habitats de nidificação para aves marinhas servem igualmente como áreas de descanso / passagem de aves migratórias. Neles ocorrem especialmente o Cagarro (Calonectris diomedea borealis), o Garajau-rosado (Sterna dougallii), o Garajau-comum (Sterna hirundo), o Frulho (Puffinus baroli baroli) e o Painho-da-madeira (Oceanodroma castro).
Destaca-se nesse papel o Ilhéu da Praia que, para além de ser um dos maiores e com maior diversidade de aves nidificantes dos Açores, foi nele descoberto recentemente uma espécie endémica, o Painho-das-tempestades-de-monteiro (Oceanodroma monteiro), que só nidifica nos ilhéus da Graciosa.⁶
Temos que conhecer o rapaz, esse Painho-das-tempestades-de-monteiro. O seu nome deve-se ao cientista português que o descobriu: Luís Rocha Monteiro. Cá está ele:
Foto retirada do site Visit Azores.
Foto retirada do site The Sound Approach.
A chegar ao meu moinho! É aquele!
Hoje vou comer qualquer coisa neste restaurante ao lado do meu moinho. As bananas que comprei ainda estão verdes e não tenho pão. Vou ver o que têm. São 19h37, já devem servir comida.
Têm hambúrguers e bifanas. Pedi um hambúrguer. E comi o último pão, vim a saber, quando entrou outro cliente a pedir um também, e já não lho serviram por não terem pão. Foi-se embora, aborrecido.
Este foi o melhor hambúrguer de toda a viagem. Um hambúrguer gigante, e não é dos congelados. Eu perguntei ao dono do restaurante (que aparece nas duas fotos acima) como são feitos. São mandados fazer no talho aqui ao lado, e vêm temperados de lá.
Muito bom e bem servido, não consegui sequer comer as batatas fritas.
Foi um pouco mais do que 9,81 km, porque eu esqueci-me de ligar o GPS à hora de almoço, quando andei a passear pelo centro de Santa Cruz, e a visitar o cemitério. Diz “Tempo Total: 3h00”. Liguei-o portanto às 17h12, altura em que o Dr. Jorge me deixou, e aos outros dois turistas, em frente ao museu. Agora marca 20h12. Vou acrescentar 300 metros, vá lá. Certamente fiz mais, mas para a próxima não me esqueço de ligá-lo. Hoje vou contabilizar portanto 10,1 km de bicicleta e 20,4 km de carro (9 km à chegada do aeroporto; 6,4 km entre o moinho e o restaurante, à hora de almoço; e 5 km ida e volta até ao Moinho de Vento das Fontes, no carro do Dr. Jorge).
¹ Costa, Susana Goulart (s.d.). “Graciosa, a Ilha Esquecida”. Instituto Açoriano de Cultura. Inventário do Património Imóvel dos Açores. Página consultada a 21 fevereiro 2021,
<https://www.iac-azores.org/iac2018/projetos/IPIA/graciosa/santacruz/graciosa-ilha-esquecida.html>
² “Igreja Matriz de Santa Cruz” (s.d.) Visit Azores, Sítio Oficial Turismo dos Açores. Página consultada a 21 fevereiro 2021,
<https://www.visitazores.com/pt/the-azores/places-to-visit/santa-cruz-church-eighteenth<-century>
³ “Igreja da Misericórdia de Santa Cruz da Graciosa / Igreja e Hospital do Santo Cristo” (s.d.) SIPA – Sistema de Informação para o Património Arquitetónico”. Direção-Geral do Património Cultural. Página consultada a 21 fevereiro 2021,
<http://www.monumentos.gov.pt/site/app_pagesuser/SIPASearch.aspx?id=0c69a68c-2a18-4788-9300-11ff2619a4d2>
⁴ “Santa Cruz da Graciosa – Tradições, Lendas e Curiosidades”. Infopédia Online. Porto: Porto Editora, 2003-2021. Página consultada a 21 fevereiro 2021,
<https://www.infopedia.pt/$santa-cruz-da-graciosa>
⁵ “Igreja da Misericórdia (Santa Cruz)” (s.d.) Wikipédia. Página consultada a 21 fevereiro 2021,
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_da_Miseric%C3%B3rdia_(Santa_Cruz)>
⁶ Raposo, Pedro (s.d.) “Ilha Graciosa”. SIARAM – Sentir e Interpretar o Ambiente dos Açores. Governo dos Açores. Página consultada a 21 fevereiro 2021,
<http://siaram.azores.gov.pt/reservas-biosfera/ilha-graciosa/_texto.html>