101 – Terceira, 29º dia – Altares & Pela Serra

Hoje é 4ª feira, dia 29 de julho de 2020.
Despertar às 5h20.
Faz grande ventania que abana a porta da rua. As janelas são duplas, nestas não se ouve nada. A meteorologia indica vento SSO 24 km/h e humidade 88%.

O meu destino hoje é a Vigia da Baleia, numa povoação chamada Raminho; e a seguir a Terra Chã.
Eu estou alojada nos Biscoitos.
Recordo que eu passei quatro dias de férias aqui na ilha Terceira, há sete meses atrás, em dezembro. Estive no topo da Serra de Santa Bárbara, por exemplo. Estive em Angra do Heroísmo. Estive em Praia da Vitória. No Monte Brasil também. Andei sempre de carro, com um amigo. Agora na bicicleta quero caminhos rurais, e experimentar outros locais.

São 6h39 e eu arranco para a primeira etapa: a Vigia da Baleia. Arrisco um percurso pedestre. A minha localização está representada pela seta azul. (Está de costas para o meu destino, mas é puro acaso, se eu girar com o telemóvel na mão, a seta gira também). O meu destino está representado pela bandeira axadrezada. Na fase inicial, mesmo sendo um caminho pedestre, leva-me pela estrada principal (a linha cor de laranja). Depois ali a certa altura manda-me sair da estrada principal e mete-me pela serra. Eu sei que é serra pela linha azul em baixo: tenho ali uma subida razoável. Mas eu até faço subidas só para fugir às estradas principais. Só por aqui se vê a gravidade da coisa: eu, Rute Norte, não me importar de fazer subidas, quando podia ir a direito pela estrada principal.

Espero que esta ventania acalme, e que não chova. Eu não levo impermeável.

Um autocarro! Quem diria que eu iria gostar de fotografar autocarros e turistas?… Duas raridades nos Açores, por esta altura. Pelo menos os turistas são uma raridade por esta altura. Os autocarros serão uma raridade em todas as ilhas em todas as alturas.

Operação de salvamento de caracoleta a decorrer. Eu pu-la nas ervas. Mas depois, mais tarde, fiquei a pensar que ela ia tão decidida a atravessar a estrada, que se calhar eu devia ter atravessado a estrada e tê-la deixado nesse outro lado da estrada. Não me digam que a caracoleta estava determinada a atravessar a estrada e eu ainda fui atrasá-la, pondo-a no lado de onde ela vinha. Será que ia em busca de melhores condições de vida, do outro lado da estrada?

A povoação chamada Altares.

Igreja de São Roque. O site da Junta de Freguesia de Altares não conta a história desta igreja, e o site da SIPA – Sistema de Informação para o Património Arquitetónico, da Direção-Geral do Património Cultural, que eu tenho vindo a citar ocasionalmente nestas crónicas, não é claro. A única informação que encontro relativa a um terramoto que terá destruído a igreja original, no século XV, está na Wikipédia². Depois terá sido construída uma igreja no século XVI, de acordo com outra fonte: a Irmandade da Misericórdia e de São Roque de Lisboa³. Ainda de acordo com o site da Irmandade, em 1901 esta igreja foi reconstruída e, em 1910, foram realizadas novamente obras de ampliação. Mais ninguém fala do terramoto. O SIPA refere “1536 – data inscrita no adro”⁴. Isto deve significar, para os entendidos, que foi construída no século XVI. Ou que não se sabe. Tem aquela data lá inscrita e pressupõe-se portanto que seja a data da sua construção.
Vamos torcer para que a Wikipédia não esteja a inventar citações do livro “Anais da Ilha Terceira”, de Francisco Ferreira Drummond, já que mais nenhuma fonte corrobora esta informação. Qual terramoto, qual carapuça.
Olha, igreja, vou-me embora. As tua história é muito incerta.
Agora funciona aqui um museu etnográfico, mas são 7h06, ainda estão todos a dormir.

Vou sair da estrada principal!

Nesta Canada das Cales há vários tipos de arquitetura misturados.

Esta sim, uma casinha novinha, certamente aproveitada de uma antiga, com os padrões tradicionais.

Tenho vindo com vento de frente. Passei por uma máquina de ordenha, mas desta vez não parei. Tenho um percurso ambicioso pela frente, não posso parar com frequência.

Faz muito vento. Está agreste, aqui em cima.

Estas cabrinhas estão estranhamente ossudas. Creio que não é normal.
Fiquei preocupada.

Depois deste passeio tão bonito pela serra, vou retomar a estrada principal.

Mas é por pouco tempo, dado que o GPS manda-me sair aqui à direita.


¹ “A Freguesia – História” (s.d.) Junta de Freguesia de Altares. Página consultada a 8 fevereiro 2021,
<http://www.jfaltares.pt/turismo/freguesia.php>

² “Igreja de São Roque (Altares)” (s.d.). Wikipédia. Página consultada a 8 fevereiro 2021,
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_de_S%C3%A3o_Roque_(Altares)>

³ “Igreja de São Roque” (s.d.) Irmandade da Misericórdia e de São Roque de Lisboa. Página consultada a 8 fevereiro 2021,
<https://www.irmandadesaoroque.pt/percursos-de-sao-roque/11-igrejas/113-igreja-de-sao-roque-2>

⁴ Noé, Paula (2010) “Igreja Paroquial de Altares / Igreja de São Roque”. SIPA – Sistema de Informação para o Património Arquitetónico. Direção-Geral do Património Cultural. Página consultada a 8 fevereiro 2021,
<http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=29063>

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