094 – São Jorge – Norte Pequeno & Fajã dos Cubres

A chegar à povoação Norte Pequeno.

Aqui mora o João Dias.

O João tem um afilhada em Lisboa, conta-me, quando eu lhe disse que sou de Lisboa. Foi criada por eles porque a mãe estava muito doente no hospital. Sempre foi agricultor, e agora são-no os dois filhos. Um tem cinquenta e tal vacas, outro cento e tal. Um vive em Santo António, outro em Rosalinha. (Não sei se percebi bem o nome desta terra! Depois disseram-me que não existe, e que talvez seja Urzelina? Ou Relvinha?).

Fajã dos Cubres!
E lá à frente, com outra lagoa, está a Fajã da Caldeira do Santo Cristo, o meu destino final de hoje.
Estas são as principais fajãs detríticas [relativo a detritos] da costa norte da ilha de São Jorge e são formadas pelos materiais resultantes de movimentos de vertente que afetaram as altas e declivosas falésias sobranceiras. De entre as 74 fajãs da ilha, estas incluem as únicas lagunas costeiras do arquipélago dos Açores.¹

Tive de parar a bicicleta duas vezes na descida para os travões arrefecerem, pois vinham a chiar loucamente. Um carro desceu depois de eu chegar lá abaixo, e ia a cheirar a queimado.

Esta fajã está classificada como Sítio de Importância Internacional ao abrigo da Convenção de Ramsar, a qual entrou em vigor em Portugal em 1981. Nesta Convenção foi definida uma Lista de Zonas Húmidas de Importância Internacional, especialmente como habitat de aves aquáticas.
Foi também eleita uma das 7 Maravilhas de Portugal. O nome curioso desta fajã provêm de uma planta de pequenas flores amarelas, os Cubres, que dá pelo nome científico de Solidago sempervirens L.
Os pescadores de quase toda a ilha deslocam-se à Lagoa dos Cubres para apanharem camarão que serve para isco de pesca. A lagoa é de água salobra (mistura de água doce e água salgada) e sujeita às marés.
O pequeno povoado desta fajã foi completamente arrasado por um terramoto em 1757. Reconstruída e repovoada com o passar dos anos, voltou a sofrer grandes estragos com o terramoto de 1980.²

São 12h14 e como me apetecia comer qualquer coisa…

Ermida de Nossa Senhora de Lurdes.

Abriu pela primeira vez ao culto a 18 de Outubro de 1908. A ideia da sua construção advinha desde há muito, devido à distância desta fajã dos locais de culto. No entanto a sua população era demasiado pobre para realizar tal obra. Ao fim de vários anos, um emigrante nascido nesta fajã, António Faustino Nunes, decidiu tomar a iniciativa para a construção da ermida. Foi o mais valioso cooperador desta obra: ofereceu a imagem, o terreno e o restante património.  A construção ocorreu a expensas dos habitantes da fajã e esmolas de toda a ilha, solicitadas pela comissão formada para tal. As imagens de Nossa Senhora de Lurdes e de Bernardete foram fabricadas na Oficina de José Soares de Oliveira e foram colocadas na ermida a 17 de Outubro de 1908.³

Está tudo deserto, não vejo vivalma.

Faltam 4,4 km para o meu destino final, a Fajã da Caldeira de Santo Cristo.

Uma pessoa! Tenho que tirar-lhe uma foto, claro.

Este senhor, que não fiquei com o nome, não mora aqui, vem apenas passar os fins-de-semana. É jorgense e nasceu na Calheta, não no hospital, mas numa casa, disse-me. Também me disse que esteve gente no alojamento local ali ao lado até ontem, e que vivem algumas pessoas na ponta atrás.

O taxista Manuel passou agora por mim. Disse-me que por vezes existem clientes aqui, que deixam o carro lá em cima e depois precisam dum táxi para levá-los de volta ao carro. Se aparecer alguém ele fará o serviço. Se não, vai descansar e espera por mim.

À falta de melhor, como mais uma barra de proteína.

– Vocês são patos ou são gansos?
– Somos gansos!
– Posso passar, gansinhos?
– Qual é a password?
– Password? Não sei!
– Então não passas.

Uns gansinhos muito lindos que andam aqui a passear!… – cantei-lhes.
Eles fixaram-me.
E eu continuei o resto da canção:
Uns gansinhos muuito lindooooos!… Que andam aqui a passeaaaaar!…
– Está bem, não cantes mais, podes passar.

Ora se aprendi bem a lição sobre os pássaros, ontem no Farol dos Rosais (crónica 91), estes passarinhos serão o Sterna hirundu – o garajau-comum. Se não for, olha, perdoem-me. Digam-me qual é que eu corrijo a crónica. Eles estão muito longe, esta foto foi tirada com o zoom no máximo.

Querem que eu diga o que está aqui dentro? Qual é a password? Sem password nada feito.
(Vocês têm de fazer alguma coisa! Têm que meter-se num avião e vir aqui passear… eu não posso mostrar-vos tudo!)


¹ “Fajãs dos Cubres e da Caldeira do Sto Cristo” (s.d.). Geoparque Açores. Página consultada a 28 janeiro 2021,
<https://www.azoresgeopark.com/geoparque_acores/geossitios.php?id_geositio=36>

² “Fajã dos Cubres” (s.d.) Wikipedia. Página consultada a 28 janeiro 2021,
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Faj%C3%A3_dos_Cubres>

³ “Ermida de Nossa Senhora de Lurdes” (s.d.) Secretaria Regional da Educação e Cultura, Governo dos Açores. Página consultada a 28 janeiro 2021,
<http://srec.azores.gov.pt/dre/sd/115152010600/nova/Site_AP12A/Construcoes/IgrejasErmidas/ESenhoraLurdes.htm>

<< >>