093 – São Jorge – Ribeira d’Areia & Eira Velha

Ermida de São Miguel Arcanjo. A sua construção termina em 1633, sendo reconstruída posteriormente em 1825 e 1910.¹

Vai haver missa às 9h30 e a Aurinda está a dar uma limpeza na igreja. São agora 8h50. A Aurinda trabalha nas escolas, diz-me. É professora, e agora estão em férias. Está a trabalhar na Beira, onde eu passei ontem (crónica 89). Perguntei-lhe como se desloca. Tem carro. A minha pergunta pareceu-lhe estranha, de qualquer forma, e antes devolveu-me a pergunta, rindo-se, “Como haveria de ser? De carro!” Então não há autocarros?, perguntei. Os transportes são privados e com poucos horários, explica-me. Eu já tinha pensado nisto antes, mas ainda não tinha calhado em conversa. Ainda não vi autocarros em nenhuma ilha. Esta é a sétima ilha por onde passo. Toda a gente tem que ter carro?! Os táxis são caros, não dá jeito ir para o emprego de táxi, todos os dias.

Despedi-me da Aurinda e prossigo caminho. Cansei-me da estrada e do caminho para bicicletas, e afinal mudo para caminho pedestre. E o GPS manda-me já sair da estrada principal, que ótimo. Não gosto mesmo nada de estradas. E há muito movimento, apesar de ser domingo de manhã. Andam a toda a velocidade a rasar-me. Não há transportes públicos, toda a gente tem de ter carro, pois claro.
Há uma saída já aqui à esquerda (vê-se na foto anterior) mas não é aí que tenho de virar, é na seguinte.

Mais um agricultor a tratar das suas vaquinhas. Claro que vou lá espreitar.

Chama-se Elson. Não é Nelson! É Elson. Nunca tinha ouvido este nome. Fez-me lembrar o Eca, de São Tomé e Príncipe. Não era Eça! Era Eca.

São 13 vacas, mais um gueixo (um boi jovem) e um boi com 1,9 meses, diz-me. As vaquinhas têm todas nome: Rosita, a Macaca (estava a empurrar a outra porque quer ração), Branca, Marruja, Barata (porque não pára, é uma vaca nervosa sempre à procura dum buraco para fugir), Cornélia, Castela, Boneca, Princesa, Serena (porque é calminha). O boi é o Ferdinando, foi a filha que o nomeou, dos desenhos animados.
Ficaram a faltar-me alguns nomes, apercebo-me ao contá-los.

A desinfetar as tetas da vaca antes de pôr os tubos da ordenha.

Acho que é o agricultor mais novo que eu vi aqui nos Açores, disse-lhe eu. O Elson é casado e tem uma filha de 7 anos. Teve uns amigos lá em casa ontem à noite, sábado, e hoje atrasou um pouco a ordenha. Só lhe falta conhecer as ilhas das Flores e Corvo.

À primeira vista eu diria que este vulcão sabia que a roda ia ser inventada e que iria passar aqui uma bicicleta. Mas depois li algures que as marcas das rodas das carroças ficaram marcadas nas pedras vulcânicas. Acho que foi no Centro de Interpretação da Paisagem da Cultura da Vinha, na ilha do Pico, mas não tenho a certeza.

Não fiquei com o nome destes dois rapazes. Eram um bocado tímidos, não me deram conversa nenhuma. Só falavam um com o outro.

O boi tem esporões na tábua, se marrar é picado.

Aqui está o João e o filho Hélder. São 10h e esta terra chama-se Eira Velha – virei a saber posteriormente, ao falar com a Angelina – a mulher do João e mãe do Hélder – através do Facebook. O João e o Hélder estão a mudar umas vacas de pasto. As vacas agora ficam uma semana nesta terra e noutra mais acima – estende-se por ali acima.

O João está a dizer ao filho que andaram aqui outra vez cabras.

O João – João Machado Ávila – esteve 25 meses na guerra de Angola. Registou-se no Campo Militar de Santa Margarida, perto de Santarém, em 1969. Só lhe falta conhecer as ilhas das Flores e Corvo.
O filho Hélder temos de dizer ao contrário: só foi às ilhas da Terceira e do Pico. Ainda tem muito para viajar.

Despedi-me do João e do Hélder e a viagem prossegue. Tenho umas barras de proteína novas. Mas também pesam 60 gramas, das quais 22 são proteína. Esta é deliciosa.

São 10h42. Tenho 5,5 km feitos, e faltam 11 km.

Estes bezerros estão todos juntos lá ao fundo, e eu canto-lhes a minha canção habitual: Uns bezerrinhos muito lindos que andam aqui a passear!…

E eles aproximam-se, curiosos.

Do outro lado da estrada, a mesma coisa. Todos muito juntinhos. Coitadinhos. São retirados às mães porque o leite das mães é para alimentar os humanos, eu inclusive. Leite e queijo.

Cantei-lhes também e eles escutam todos.

– És um bezerrinho muito lindo!
– O que andas aqui a fazer, Rute?
– Vim conhecer a tua terra!
– Viste a minha mãe?
– Oh bezerrinho, sim, ela está bem de saúde, está lá em baixo, com outras vaquinhas.
– Podes levar-me até ela? Quero a minha mãe!…
– Oh bezerrinho, não posso…

Tu tens sorte, estás com a tua mamã…

Este é fresco, tem de ter uma corrente.


¹ “Ermida de São Miguel Arcanjo” (s.d.) Visit Azores, Sítio Oficial Turismo dos Açores. Página consultada a 27 janeiro 2021,
<https://www.visitazores.com/pt/the-azores/places-to-visit/chapel-of-sao-miguel-arcanjo>

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