092 – São Jorge, 26º dia – Fajã do Ouvidor & Bebendo Leite Ainda Morno
Hoje é domingo, 26 de julho.
Despertar às 5h20. O taxista Manuel vem buscar-me às 6h45 para deixar-me na Fajã do Ouvidor. A partir daí eu seguirei até à Fajã da Caldeira do Santo Cristo.
Recordo o significado da palavra “fajã”: terra baixa e plana resultante de escoadas de lava que penetraram no mar.
Vou começar ali na zona do Norte Grande, sigo para o Norte pequeno, passo pela Fajã dos Cubres, e chego então à Fajã da Caldeira do Santo Cristo. Mostrarei o percurso no GPS nas fotos abaixo, quando chegar ao Norte Grande.
São 6h38. Já estou toda besuntada de protetor solar, como é hábito. Não tenho referido isto, mas é um ritual todas as manhãs, ainda de noite, besuntar-me toda com protetor solar fator 50. Quando andar debaixo de sol irei agradecer.
O taxista Manuel a chegar. Ainda vai tomar o seu cafezinho.
Aí vem a Graça tomar o seu cafezinho também.
A Ana Bela também vende tomates. Está ali a vender tomates que o Manuel deixou ontem encomendados, contou-me este.
O Manuel explica-me que estes tomates não são de estufa, são plantados e crescem num terreno da Ana Bela. Então e porque não planta tomates o Manuel também?, perguntei-lhe. Não pegam, não é fácil, disse-me. Nem todas as terras dão.
O Manuel leva-me lá abaixo à Fajã, e depois subirá comigo e deixar-me-á lá em cima.
Cá está a Fajã do Ouvidor. A falésia ronda os 400 metros de altura. Esta fajã toma o seu nome do facto de Valério Lopes de Azevedo, Ouvidor do Capitão do Donatário, ter sido um dos seus principais proprietários.¹ Um “ouvidor” era a designação dos magistrados que superintendiam na justiça das terras senhoriais, em Portugal. As suas funções eram semelhantes às dos corregedores nas terras diretamente dependentes da Coroa. As terras sujeitas a corregedores eram chamadas “comarcas” ou “correições”, e as sujeitas a ouvidores eram chamadas “ouvidorias”.²
As piscinas naturais.
Foram 25,6 km de táxi, 1h. O Manuel diz-me para pagar logo à tarde quando for buscar-me de volta. Eu prefiro pagar imediatamente em cada viagem, sabe-se lá se estarei viva logo à tarde? E se eu morrer?, fica sem o dinheiro – disse-lhe eu. O Manuel riu-se. Olhe, fica a viagem oferecida, nesse caso – respondeu-me.
E começa então o meu percurso de bicicleta. São 7h45. Hoje opto por um percurso de bicicleta, e não pedestre. A diferença, de qualquer forma, está naquele pedaço até Norte Pequeno. Por estrada. A partir daí é igual, seja ciclismo ou pedestre. Hoje é domingo, é muito cedo, não há praticamente trânsito nenhum.
O cemitério está fechado, tirei esta fotografia através das grades.
Ora anda ali alguém a tratar das vaquinhas. Vou lá espreitar…
Chama-se João e convida-me a entrar. Eu passei a cerca, que estava aberta, e deixei a bicicleta à entrada.
O João acabou de ordenhar as vacas e pergunta-me se eu quero provar o leite. Claro que quero.
Ainda está morno!
O João vai mudar uma vaca, é longe, perto do mar, por um caminho ruim, disse-me. Eu quero ir atrás dele, de qualquer forma. Receei pelo cavalo ali na estrada, numa curva, e disse-lho. Passam carros raramente, mas quando passam vão a toda a velocidade.
O João mete-se ali para dentro para montar o cavalo. Há ai um tronco ou uma rocha, não percebi, e o João pôs-se em cima e conseguiu montar o cavalo.
O João insiste que o caminho é ruim, e é longe. Também tenho receio de incomodar, e efetivamente não me apetece descer e subir a falésia. Prossigo então viagem pela estrada principal. O sol bate de frente, é perigoso, os condutores não vêem. Fiquei a ver o João afastar-se pela ribanceira abaixo montado no seu cavalo. Antes de desaparecer olhou para trás e fizemos adeus.
¹“Fajã do Ouvidor” (s.d.) Wikipédia. Página consultada a 26 janeiro 2021,
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Faj%C3%A3_do_Ouvidor>
² “Ouvidor” (s.d.) Wikipédia. Página consultada a 26 janeiro 2021,
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Ouvidor>