088 – São Jorge – Queijo de São Jorge

Aqui está o Lino, com o filho, a ordenhar as vacas. Está agora a chover chuva miudinha, e eu deixo a bicicleta e abrigo-me o melhor possível debaixo duns grandes arbustos na berma da estrada.

O Lino diz que este pássaro é um tentilhão. É atrevido, anda aqui à minha volta e eu não consigo fotografá-lo como deve ser. Quererá dizer-me algo?

Paulo, o filho do Lino, que me chamou para eu fotografar a vaca a ser ordenhada lá dentro.

O Paulo tem de entregar o leite até às dez. Vai à pressa, são 9h44. O pai fica, tem um carro mais à frente ali estacionado.

O Lino vai aparar o pasto agora. Perguntou-me algumas coisas sobre a minha viagem. Contou-me que agora tem esta máquina de ordenhar, mas antigamente vinha para aqui de burro e a ordenha era feita à mão.
Agradeci-lhe e despedimo-nos.

Estão vacas a ser ordenhadas ali dentro, ouço. Disse “Bom dia” várias vezes, mas nada. Não veio ninguém. Está a chover novamente e eu espero aqui um pouco. A andar na bicicleta molho-me muito mais, mais vale estar parada, são chuviscos apenas.

Entretanto passa o Paulo, o filho do Lino, a conduzir para cima, e diz-me que estas vacas são ali da queijaria em baixo.

– Olá rocha, tens uma cabeleira muito gira!
– Não gozes comigo, Rute!

Ouço vozes ali dentro. Parece-me que está alguém ao telefone.

Deve ser esta a queijaria que o Paulo referiu. Será que deixam visitar?

Não há visitas por causa da Covid-19, no entanto vendem queijo. Eu pedi um pedaço para comer já.

Antes de comprar, aquele senhor – que é o dono da queijaria, juntamente com a sua mulher, e o qual se chama Manuel Silveira – deu-me um bocado para provar. Este é de 3 meses, disse-me. Eu comi o bocadinho. Fui imediatamente transportada para outro mundo. Fechei os olhos. Mmmm…. – saboreei. Que coisa maravilhosa – disse eu, em voz alta.
Só me lembrei de onde estava – e que estava a ser observada – ao ouvir o seu riso.
Queijo da ilha de São Jorge – um dos meus queijos preferidos. É o que como habitualmente em minha casa, em Lisboa. O de 7 meses. Também já comprei com 12 e 24 meses de cura, mas não há nada como o de 7 meses, já premiado, aliás. Este será de outra marca, mas o sabor é inconfundível.
Este pedaço, que custou 1€, comi-o todo, agora. São 11h04, veio mesmo a calhar.

Leio o seguinte na internet:

1000 litros é a quantidade de leite diária que as 55 vacas da lavoura de Manuel Silveira dão.
Ordenhadas duas vezes ao dia por João Paulo Silveira, filho de Manuel, estas vacas até já sabem o caminho do pasto até à casa de ordenha. Basta abrir os portões e lá vêm elas.
Entram apenas oito vacas de cada vez para a casa de ordenha. Um processo simples, atesta João Paulo.
Ora e daqui para onde é que vai todo este leite? Para a queijaria do Sr Manuel, pois claro.
E no dia seguinte cá estamos nós, basta abrir a porta da Queijaria Canada e já cá está o Sr Manuel Silveira e a sua esposa Graça Silveira, proprietários da queijaria, que estão cá desde as 6h da manhã.
E todo este queijo é feito com o leite das vacas de Manuel Silveira. Um queijo que remonta às origens, como conta Manuel.
Após receber o leite da manhã que é adicionado ao leite da noite inicia-se o processo de fazer o queijo.
Passando por todos os passos, chegamos ao armazém. E são muitos os queijos que estão lá, mas não por problemas de escoamento, estes cerca de 1400 queijos estão em processo de cura.
É aqui também que se raspa o queijo que está pronto a ser embalado.
Queijo raspado, agora é só tratar dos procedimentos finais.
E aqui em São Jorge a crise do setor leiteiro parece até estar a passar ao lado, porque o negócio da queijaria Canada vai de vento em popa e Manuel Silveira tem a explicação para esta exceção à regra.
Por dia a queijaria Canada produz cerca de 35 queijos, um queijo confecionado da forma mais tradicional possível e que chega também aos mercados mais tradicionais. Queijo este produzido numa ilha em que a crise que assola o setor leiteiro, por via, por exemplo do fim das quotas leiteiras, prece não dar grande prejuízo a este setor em São Jorge.¹

– Gostas de mim, Rute?
– Sim, és uma gatinha açoriana muito linda.
– E gosto de festinhas.
– Pois já reparei, gatinha.
– Andas a passear na minha ilha?
– Sim, gatinha, vim conhecer a tua ilha.
– Eu tenho uma família de gatos, aqui na ilha.
– Mas tu és a mais linda, gatinha.
(Esta gatinha é linda, bem como os outros três mil gatinhos da ilha de São Jorge).


¹ Andrade, Liliana (2016, 20 maio) “Queijo Canada remonta às origens – Uma queijaria onde o tradicional modo de confeção não se perdeu (Reportagem c/áudio)” Rádio Lumena Açores. Página consultada a 20 janeiro 2020,
<http://radiolumena.com/queijo-canada-remonta-as-origens-uma-queijaria-onde-o-tradicional-modo-de-confecao-nao-se-perdeu-reportagem-caudio/>

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