074 – Pico – Passeio de Barco para Avistar Baleias
Tartaruga Caretta caretta
As tartarugas-caretas ou tartarugas-bobas juvenis são muito frequentes nos Açores. Normalmente ocorrem em mar aberto e evitam zonas costeiras. São reconhecidas pelas suas carapaças com cinco pares de placas laterais, castanhas-avermelhadas, visíveis à superfície do oceano. Quando as embarcações se aproximam elas assustam-se e mergulham temporariamente, emergindo alguns minutos depois. Por regra observam-se indivíduos solitários, mas ocasionalmente aparecem aos pares.¹
As tartarugas-caretas adultas medem em média cerca de 80 cm de comprimento de carapaça, mas já se encontraram indivíduos com 2,5 m que pesavam mais do que 500 kg. Os machos adultos são maiores do que as fêmeas. Durante a sua fase pelágica [ou seja, quando vivem dentro de água], alimentam-se essencialmente de medusas, tunicados e caravelas-portuguesas, mas também incluem cefalópodes e peixes na sua dieta. Embora mergulhem até aos 180 m de profundidade, as tartarugas passam a maior parte do tempo entre a superfície os 5 m de profundidade. As tartarugas-careta que ocorrem nos Açores nascem nas praias do sudeste da América do Norte, especialmente na Flórida. Os juvenis adotam uma vida pelágica e seguem as correntes da circulação geral do Atlântico Norte. Depois de 8 a 11 anos no oceano aberto, elas voltam ao locam onde nasceram, onde atingem a maturação sexual. Os adultos tornam-se costeiros e vivem nas imediações das praias de reprodução. No Atlântico, reproduzem-se também no Golfo do México e nas ilhas de Cabo Verde, o principal local de reprodução no setor oriental, e no Mediterrâneo. Vivem mais de 50 anos, mas alguns cientistas pensam que podem atingir os 100 anos.¹
As tartarugas foram intensamente exploradas no passado, pela sua carne e ovos. Hoje as ameaças principais são o aprisionamento e captura acidental por artes de pesca, a ingestão de plástico flutuante e a alteração dos habitats de reprodução, devido ao desenvolvimento imobiliário.¹
Golfinho Pintado do Atlântico (Stenella frontalis).
Os golfinhos pintados do Atlântico têm, aproximadamente, 1 m de comprimento à nascença. Os adultos chegam a atingir os 2,3 m de comprimento máximo, com um peso de cerca de 143 kg. A esperança média de vida desta espécie não é bem conhecida, mas pensa-se ser cerca de 30 anos.
O golfinho pintado do Atlântico é um golfinho pequeno, mas robusto. As crias nascem sem pintas, mas quando têm cerca de 2 anos de idade começam a adquirir pintas pretas no ventre claro. À medida que envelhecem vão adquirindo cada vez mais pintas, e os adultos têm o corpo coberto de pintas brancas no dorso e pintas escuras nos flancos e ventre. A extensão e número de pintas nos adultos é variável individualmente, e populações mais oceânicas tendem a apresentar menos pintas que as populações mais costeiras. A barbatana dorsal é alta, falcada, situada no meio do dorso, e, geralmente sem pintas.²
Os golfinhos pintados do Atlântico alimentam-se de pequenos peixes, cefalópodes e invertebrados. Normalmente fazem mergulhos superficiais até cerca de 60 m de profundidade, durante 6 min. O tamanho dos grupos também é variável consoante as populações. Podem viver em grupos de 10-50 indivíduos, de ambos os sexos e várias faixas etárias. As fêmeas amamentam as crias até estas terem cerca de três anos, e têm uma cria nova a cada 3-4 anos. Avistamentos dos mesmos indivíduos nas Bahamas indicam que algumas populações são residentes, enquanto outras se deslocam grandes distâncias, à procura de alimento. São muito ativos e energéticos, gostando de vir surfar as ondas da proa das embarcações e muitas vezes dando saltos muito elevados.²
E cá estão elas. As baleias. As enormes e magníficas baleias. Soltámos todos um “Ahhh” mal as vislumbrámos.
São três Baleias-Sardinheira (Balaenoptera borealis), com 14 a 20 metros de comprimento. Chamam-se assim por terem sardinhas, pintas.
As sardinheiras têm cerca de 4,5 m de comprimento e pesam 700 kg à nascença. O comprimento máximo desta espécie é de 20 m, sendo os machos ligeiramente menos compridos que as fêmeas. O seu peso pode chegar às 45 toneladas. As barbas variam em número entre 220-410 de cor cinzento-escura ou preta, tendo menos de 80 cm. Provavelmente, a esperança média de vida é mais de 60 anos.
As sardinheiras têm um corpo largo e hidrodinâmico com uma coloração cinzento-escura no dorso e branca no ventre. Apenas possuem uma crista entre o espiráculo e a boca, à semelhança de outros rorquais³ [“Rorqual” é a designação comum dada aos cetáceos da família Balaenopteridae. A designação rorqual deriva do norueguês e significa baleia com pregas. Todos os membros desta família tem um conjunto de pregas na pele, as quais permitem uma grande expansão da boca quando o animal se alimenta]⁴. Existem entre 30-60 pregas ventrais que se estendem até ao meio da barriga.
Quando mergulham não arqueiam tanto o dorso como as outras grandes baleias.³
As sardinheiras são bastante flexíveis na sua dieta. Alimentam-se de pequenos peixes, lulas, krill e outro zooplâncton, como copépodes. As técnicas de alimentação alternam entre nadar rapidamente em direção aos aglomerados de presas e nadar lentamente à superfície, com a boca aberta, filtrando constantemente o alimento. Nos Açores, vemo-las muitas vezes a nadar seguindo um rumo certo, perto da superfície da água e embora o animal não seja visto à superfície, consegue-se prever onde vão surgir, vendo as “pegadas” que vão deixando na água à medida que se deslocam.³
Um cagarro a voar à frente da baleia. Apresentei os cagarros na crónica 54.
Presumivelmente as sardinheiras fazem migrações entre as grandes latitudes no verão e águas tropicais no inverno, mas a rota e extensão destas migrações ainda permanecem desconhecidas. Como outras baleias de barbas, vivem em grupos pequenos e as associações que formam com outros indivíduos são de caráter temporário. Dão à luz no inverno, provavelmente em águas tropicais e subtropicais após um período de gestação de 11-12 meses.³
Um cagarro (Calonectris borealis), a ave marinha mais abundante nos Açores, e que canta muito à noite, junto às casas (eu experimentei a sensação na ilha do Corvo, conforme contei nessa altura).
– Adeus, Rute!
– Lindo cagarro, adeus!
– Vieste conhecer a minha terra e o meu mar?
– Sim, cagarro! É tudo lindo!
– Diverte-te, Rute, adeus!
– Adeus cagarro! Vive bem!
Que coisa tão grande. Se ela quisesse, virava o meu barquinho.
Lá ao fundo vê-se o repuxo de uma. É emocionante, ver um repuxo daqueles. She blows!
Cagarros.
Somos cinco turistas no barco. Havia mais dois, mas enganaram-se na hora, pensavam que era às três e acabaram por perder esta viagem (já paga) e pelo que percebi serão integrados no passeio de amanhã. Foi um dos turistas – francês – quem me tirou esta foto. Eu não tenho usado óculos escuros aqui nos Açores, mas hoje custou-me.
Na zona onde vimos as três baleias, viam-se quatro ilhas: Faial, Pico, São Jorge e Terceira.
Nesta viagem somos acompanhados pela Susana e pelo João, muito simpáticos, muito prestáveis. O João recebe entretanto informações de que foram avistados cachalotes mais para este, para os lados duma povoação chamada Piedade, pelo que fomos para lá. Entretanto parou o barco e todos nós ouvimos as profundidades do mar, com um aparelho, e ouvimos uns estalidos – são as baleias a comer, disseram-nos a Susana e o João. Elas andam por aqui, portanto! Temos que esperar e estar atentos.
Hoje de manhã andei de barco no norte da ilha, entre Madalena e São Roque. Agora ando na parte sul, entre Lajes do Pico e Piedade.
Cá está um dos cachalotes! Veio à superfície!
São três cachalotes à nossa volta!
São sobretudo fêmeas que gostam de águas mais quentes. Os machos andam pelas águas frias do norte, nomeadamente na Noruega. Coitados, mais valia estarem aqui, pois na Noruega caçam baleias.
O principal alimento dos cachalotes são lulas e outros cefalópodes de médio e grande porte. Análises ao conteúdo estomacal destes indivíduos mostra que machos adultos consomem uma quantidade considerável de peixe. As fêmeas vivem em grupos duradouros e estáveis, que variam entre 8-20 indivíduos em cada grupo. Os machos começam a abandonar os grupos familiares por volta dos 10 anos, e formam associações com outros machos jovens. A coesão destes grupos enfraquece com o tempo, e machos adultos são muitas vezes solitários.⁵
As fêmeas jovens dão à luz a cada cinco anos, após um período de gestação de 15-16 meses; o intervalo a que têm uma nova cria vai aumentando com a idade. As zonas de reprodução são em águas tropicais e subtropicais onde as fêmeas habitam, não havendo época reprodutiva. A maioria do tempo é passado à procura de alimento, e estes animais mergulham bastante fundo para capturar as suas presas. Tipicamente, as fêmeas realizam mergulhos de 40-50 min, mergulhando a 600-800 m de profundidade, seguidos de períodos de descanso à superfície de 10 min. Antes de um mergulho, todos os indivíduos arqueiam o pedúnculo, e mostram a cauda quando mergulham. Quando estão a socializar, o grupo pode ser visto à superfície, em posições paralelas uns aos outros ou até a saltar e a bater a cauda.⁵
¹ Gallagher, L., Porteiro, F., e Santos, R. S. (2013) “Tartarugas-careta” in Guia do Observador da Vida Marinha Oceânica dos Açores. Coingra – Companhia Gráphica dos Açores, Lda; 1st Edition (1 Jan. 2013).
² “Golfinho Pintado do Atlântico” (s.d.) Espaço Talassa. Página consultada a 30 dezembro 2020,
<https://www.espacotalassa.com/pt-pt/cetaceos/golfinho-pintado/>
³ “Sardinheira” (s.d.) Espaço Talassa. Página consultada a 30 dezembro 2020,
<https://www.espacotalassa.com/pt-pt/cetaceos/baleia-boreal/>
⁴ “Balaenopteridae” (s.d.) Wikipedia. Página consultada a 30 dezembro 2020,
< https://pt.wikipedia.org/wiki/Balaenopteridae>
⁵ “Cachalote” (s.d.) Espaço Talassa. Página consultada a 30 dezembro 2020,
<https://www.espacotalassa.com/pt-pt/cetaceos/cachalote/>