049 – Corvo, 15º dia – Miradouro da Cara do Índio
Hoje é 4ª feira, 15 de julho.
Despertar às 5h40.
Primeiro destino de hoje: Miradouro da Cara do Índio. A pé. Os trilhos que vou fazer hoje aparentemente não dão para bicicleta, tenho receio de arriscar.
Segundo destino: Reserva Natural, seja lá o que for. Posteriormente disseram-me que esta zona se chama Fonte dos Poços, mas não tenho a certeza se me expliquei bem, e se a pessoa percebeu onde eu fui. Não encontro mapa nenhum que indique o nome desta zona. Dizem simplesmente “Ponta Oeste”.
O percurso de hoje terá portanto 11,4 km (ida e volta). Com os constantes desvios que eu faço, vamos ver onde vai parar.
É a primeira vez numa viagem que deixo a bicicleta em casa. Até me faz confusão andar a pé, assim, sem levar a bicicleta pela mão, pelo menos. E deixá-la presa em qualquer lado.
São agora 7h18.
Comida e água ao dispor. Coleirinhas. Até o tapete tem gatos desenhados. Temos aqui um açoriano (ou uma açoriana) que gosta de gatos e trata-os bem. Sortudos. Nem sabem a sorte que têm, seus felinos felpudos.
Apesar de ter saído há poucos minutos de casa, já bebi meio cantil. Logo a subir isto tudo… Levo um cantil comigo, apenas. Não quero andar carregada. E levo-o na mão. Aproveito e encho-o novamente aqui no Chafariz do ano de 1836. Que se faça uso das torneiras.
O caminho é por aqui. Parcialmente irá coincidir com um trilho oficial, e daí aqueles dois traços amarelo e vermelho.
Este pássaro – um melro – saltitou durante algum tempo à minha frente.
Atravessou inclusivamente a estrada – vínhamos os dois do caminho de baixo – e prosseguiu à minha frente pelo caminho de cima. Este melro sabe o caminho, apercebi-me, intrigada. Até que finalmente me disse alguma coisa:
– É por aqui o caminho, Rute, vem atrás de mim.
– Ah bom. Obrigada, passarinho. Queres que te cante uma canção?
– Não é preciso, eu também sei cantar, e já te ouvi cantar uma dúzia de vezes.
– Ah sim? Ontem?
– Sim, ontem. Andaste perdida no meio dos pastos, eu estava lá a dizer-te que o caminho não era por ali.
– Ah eras tu, passarinho? Tinhas razão. Mas cheguei ao Farol!
– Eu sei. E chegaste ao Grande Senhor também.
– Ao Grande Senhor?!
– Sim, o vulcão Monte Gordo. Nós, no Reino dos Pássaros, conhecemo-lo por Grande Senhor. Gordos são vocês, humanos.
– Oops… Eu não sou, passarinho. Nem lhe dei esse nome.
– Segue o teu caminho agora. Está bem assinalado para os humanos. Eu vou voar, vou-te vendo.
– Adeus, obrigada, passarinho. Vive bem.
Caminho à direita.
Aqui é uma paragem apenas. Não é o Miradouro da Cara do Índio.
A vila foi palco de várias incursões por parte de piratas e corsários, já que a ilha não possuía estruturas de defesa contra as mesmas.
O ataque de Sir Francis Drake, corsário ao serviço da Coroa inglesa, que, em 1587, incendeia o então chamado Porto das Casas, e o ataque dos piratas berberes, em 1632, que são vencidos pelos corvinos, apesar do seu reduzido número e de terem apenas pedras para se defender, são dois dos episódios mais marcantes.¹
Pus as mãos na boca em forma de concha e gritei: “Vaquinhaaa!” Mas não olharam sequer. Esta foto foi tirada com um grande zoom, elas estão longe e nem me ouvem.
Ali está o miradouro da Cara do Índio.
Eu não vi cara de índio nenhuma, pelo que fui buscar uma foto à internet, com a dita cara. Cá está ela. Esta foto foi retirada do site “Visit Azores”.
Estou a ser observada. E aqueles chifres não me trazem grande confiança. Os bodes marram, não me venham com histórias. Olhem lá para outro lado, amiguinhos.
Pus a máquina lá em cima e deixei-a em contagem decrescente. Apanhou-me nesta foto ainda a correr.
Agora sim.
Primeiro destino atingido! São 9h08. Pelo andar isto vai ser muito rápido hoje. Vou agora para o segundo destino, a Reserva Natural.
¹ “Canto do Rego” (s.d.) Ecomuseu do Corvo, Panfleto. Circuito Interpretativo, Vila do Corvo. Governo Regional dos Açores. Panfleto consultado a 18 novembro 2020.