047 – Corvo – Farolim Canto da Carneira

Um cavalinho muito lindo que anda aqui a passear!…

Eis o Filipe Alves, quem já fotografei na crónica 43, com o seu amigo Carlos Toste. Vai encher os tanques, diz-me. O gado bebe muito e as ervas estão secas. Não tem chovido, é uma preocupação.
A Delegação da Assembleia tem coisas para visitar, diz-me.
Eu explico-lhe que agora vou ao Farol. Farol da Carneira, diz-me o Filipe. E deu-me também indicações sobre o caminho. É uma pena não constar no GPS. Mas hei de lá chegar. Tenho que seguir por esta estrada à direita. E depois quando a estrada terminar, surgirá uma bifurcação, e tenho de seguir pela canada da direita.
São agora 9h58.

Interpelei este agricultor, nas suas lides, sobre o caminho para o farol. Quero ver se estou no bom caminho. São 10h16.
Chama-se João Branco. Estava indicar-me o caminho, mas já estava a ficar perdido ele próprio. Disse que já fez o caminho tantas vezes e agora estava a ficar baralhado. Mas disse-me o caminho correto – ou pelo menos igual ao do Filipe – pela canada da direita. E sim, estou na estrada certa.

São 10h38. Isto é mesmo longe. Interpelei uma vez mais um agricultor, para confirmar que vou no bom caminho. Tudo são bons pretextos para meter conversa.

Finalmente terminou a estrada. Agora tenho que seguir a pé. A bicicleta fica aqui presa com o cadeado. São 10h43.

Eu estava a tentar perceber se a máquina estava a disparar ou não. Está a disparar, está.

Isto é um caminho?!

Mas avancei. Com as hortências a roçarem-me os ombros e a cara.

Não vou a olhar para a paisagem enquanto ando. Vou concentradíssima no chão e no caminho. Estas rasteiras estão por todo o lado, ao nível dos tornozelos, da cintura, dos ombros. Tenho que tentar colá-las ao chão, com as sandálias, e só depois passar. Se estiverem muito altas tenho de agarrá-las da melhor maneira.

Ena agora atravessar isto. Nunca imaginei que fosse tão longe e um caminho tão agreste. Mas agora não vou voltar para trás. Amanhã teria que fazer isto tudo novamente. Só aquela subida da Vila do Corvo mata-me. Agora vou até ao fim. Estou aqui e vou até ao fim.

Bom, não deve passar aqui ninguém há muito tempo. Fui mesmo pelo meio destas ervas. De calções e sandálias. Com muito cuidado por causa dos picos. Tem um muro de pedra do lado direito, por baixo desta vegetação, que nem se vê na foto. Mas é alto, não é fácil trepá-lo. Prefiro ir por aqui.

Farol à vista!!! São 11h15.

A trabalheira que tu me deste para chegar aqui, rapaz!

São 11h37.
Leio o seguinte na internet:
Este é um pequeno farolim aqui instalado em 1965, para orientação dos navios. Devido às condições atmosféricas o farolim começou a ficar degradado, sendo então substituído por outro em 2002. A lâmpada funciona graças a uma bateria alimentada por painéis fotovoltaicos. A manutenção, difícil graças à localização do farolim (eu que o diga), é garantida pelos faroleiros do Farol de Albarnaz, na Ilha das Flores.¹

Vim mais tarde a descobrir que passei muito perto da Vigia da Baleia. Era numa canada à direita da estrada. A Vigia da Baleia são pequenas construções – pequenas casinhas – onde alguém observava o horizonte marítimo, em busca de cachalotes, e ao vê-los, avisava o resto da população, para irem caçar as baleias. No século XVIII os barcos baleeiros norte-americanos vinham aqui recrutar corvinos – conhecidos pela sua bravura – para as suas tripulações. Mais adiante, no decorrer desta viagem, eu mostrarei algumas Vigias da Baleia e desenvolverei este tema.

Encontrei posteriormente este mapa na internet.

Bebi um gel energético.
Adeus farol, até à próxima!

Cheguei à bicicleta ao meio-dia. Vou agora para o Caldeirão. Este foi um desvio muito grande que eu não estava à espera. Mas foi lindo e valeu a pena.
Caldeirão, aí vou eu agora!! Já tem que fazer sol, já não deve estar nublado!


¹ “Farolim Canto da Carneira” (s.d.) Visitar Portugal, Enciclopédia das Localidades Portuguesas. Página consultada a 16 novembro 2020,
<https://www.visitarportugal.pt/ra-acores/c-corvo/ilha-corvo/farolim-canto-carneira>

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