028 – Santa Maria – Norte
A sair do Miradouro da Baía São Lourenço. Regresso à minha bicicleta, que me aguarda lá em cima.
Vaquinhaaaaa!…
Acordei-a, pois claro. E fixou-me demoradamente, surpreendida.
Cheguei ao meu primeiro destino de hoje. São 11h19.
O muro de cimento é que não está com nada! Cadê o basalto?!
Não se vê vivalma. Está tudo deserto.
Pouco antes deste ponto, passei por uma casa em obras. Os três trabalhadores dessa casa foram as únicas pessoas que vi. Ignoraram-me, como se fosse muito vulgar aparecer alguém por aqui, e ainda por cima de bicicleta. Serão de outra zona, virão aqui trabalhar como pedreiros e serventes. Se calhar em tempo de turismo é vulgar aparecer aqui gente, mas agora durante a pandemia não se vê ninguém. Eu eu retraí-me e também não disse nada. Enfim, estou sozinha num local deserto, também não é propriamente adequado fazer grande festa ao ver três homens. Prossegui o meu caminho e nada disse.
O GPS indica-me que para o Barreiro da Faneca devo seguir por aqui. Mas isto parece-me um bocado agreste. Tudo muito deserto, com caminhos que eu não sei se são viáveis.
Sentei-me e estudei o mapa. Tenho que decidir o que fazer. Prosseguir por estes caminhos? Dez quilómetros. E aproxima-se a hora de almoço. A comida é sempre uma preocupação. O Barreiro da Faneca indica que é uma zona deserta. Não haverá lá nenhum restaurante à minha espera, com certeza. Leio na internet que o Barreiro da Faneca tem origem vulcânica e é o “Deserto Vermelho dos Açores”. Possui uma paisagem árida e argilosa de coloração avermelhada.
Voltei para trás. Só sei que passei mais duma hora nesta povoação, nem eu própria sei como. Metade a estudar o mapa, outra metade a passear e a cantar às vaquinhas. Telefonei para o restaurante a reservar o almoço. Chamei um táxi para vir buscar-me. Fiquei triste por não falar com ninguém.
– O que estás aqui a fazer, Rute? – perguntou-me ela, na sua omnisciência de nomes e línguas.
– Vim conhecer a tua terra, vaquinha! E vou cantar-te uma canção! Uma vaquinha muito linda que anda aqui a passear!… Uma vaquinha muita lindaaaaaa!… (Agora baixa o tom): Que anda aqui a passeaaaaaar!…
– Não cantas lá muito bem, mas eu gosto na mesma. Podes cantar outra vez!
– Obrigada, vaquinha linda. (E assim fiz, voltei a cantar).
São 12h28. Como se pode ver, passei mais tempo parada do que em movimento. Para não estar aqui mais tempo, com tudo deserto (os homens das obras entretanto foram-se embora num carro, com certeza almoçar), e nunca mais acabo de cantar, vou voltar pela estrada de onde vim, e o táxi há de apanhar-me no caminho.
Lá vem o meu táxi. Ainda fiz 2 km e pouco.
Veio o taxista Duarte buscar-me numa pickup, de propósito por causa da bicicleta. Diz que só moram ali na povoação do Norte três ou quatro pessoas. Disse também que não ia esquecer o meu nome: Rute Norte que foi buscar ao Norte.
O Duarte disse-me ainda que os caminhos até ao Barreiro da Faneca são trilhos e que de bicicleta não daria, só com ela pela mão. Fazer dez quilómetros assim, e já a chegar a hora de almoço, seria agreste.
O Duarte é mesmo de Santo Espírito; o seu telefone estava no meu alojamento, eu tinha-lhe tirado uma fotografia com o telemóvel.
Foram 9 km, 8€.
Explicou-me que esta e a ilha Graciosa são as ilhas mais secas do arquipélago dos Açores. Este ano está tudo verdejante porque choveu muito.
São 13h21. Prato do dia (que eu já reservei por telefone): rabo de boi com aba da costela. Não faço ideia o que é isso, disse eu à rapariga que me atendeu o telefone, quando eu estava na povoação do Norte. É carne com batatas. Ok, venha.
Agora tenho que ir fazer as malas e desmontar a bicicleta. Amanhã voo para a ilha das Flores.
Ao final da tarde comi uma torrada, três iogurtes e um copo de leite morno, de meio litro. (Na foto estão dois iogurtes, mas eu fui buscar o terceiro ao frigorífico. Ainda há espaço na minha barriga, e deixá-lo aqui porquê? Não poderei levá-lo no avião). Tenho o segundo bife de albacora com batatas no frigorífico, mas só me apetece estas gulodices. O pão dura desde o primeiro dia, continua fresco. Fiz uma sandes de queijo da ilha (qual seria a ilha?, não me lembro de ver na embalagem) para levar amanhã no avião. E levo o resto do pão comigo. A torradeira é boa, aceita fatias enormes. Já estava a habituar-me a uma torradinha ao final da tarde, aqui na linda ilha de Santa Maria.
Deitei-me às 20h30. Amanhã tenho que acordar às quatro.
Eis o total de km feitos aqui na ilha de Santa Maria:
Dia 6
Aeroporto / Vila do Porto
23,7 km bicicleta
30 km táxi
Dia 7
Cascata do Aveiro / Miradouro da Pedreira da Tia Paulinha
24,9 km bicicleta
Não houve táxi
Dia 8
Norte
20 km bicicleta
9 km táxi
Dia 9
Ida para o Aeroporto
15 km táxi
Total Santa Maria
68,6 km bicicleta
54 km táxi