015 – São Miguel – Bezerros, Galinhas, Porcos e Patos

O posto de entrega do leite.

Na quinta do Francisco.

À frente do Francisco está a galinha e os pintainhos.
O Francisco tem 59 anos e já levou setenta injeções para a coluna, contou-me. Eu custo a perceber o que me diz devido à pronúncia micaelense, e várias vezes teve de repetir mais devagar.

O Francisco oferece ovos aos amigos e à família, e queria dar-me dois também, mas eu não tenho maneira de trazê-los na bicicleta. Ontem jantou três ovos estrelados, contou-me, chouriço e mais qualquer coisa que entretanto esqueci-me.

Quando matou um porco, há pouco tempo, se percebi bem, vendeu logo os chouriços todos, e morcelas. As mulheres reuniram-se para cozinhar e arranjar a carne.

Não são patos, são marrecas. A diferença está na cauda, enrolada ou lisa, explicou-me.

O Francisco tem dois filhos, um rapaz com 29 anos, que já foi carteiro e já foi barman. De momento não está a trabalhar, anda à procura de emprego. Há dez anos que faz ginásio, é um rapaz musculado, e não quer saber disto, dos campos e dos animais. O pai pagava-lhe mil euros mês e dava-lhe carro, mas ele não quer.
Tem também uma filha com 22 anos, a Nicole, que estudou Biologia Marinha e trabalha na área do turismo, num barco para ver golfinhos, aqui em São Miguel. A filha trabalha todos os dias da semana, sem descanso. Está a dar em vegetariana, come carne raramente, contou-me. Não me admira, eu não tarda nada sigo o mesmo caminho. Faz-me pena ver estes animais todos e pensar no seu triste destino: a minha barriga e a de todos os outros humanos. Espero que tenham uma morte rápida, sem sofrimento.

São 9h39, despedi-me do Francisco, agradeci-lhe a simpatia e a paciência em andar comigo atrás para todo o lado, a mostrar-me os campos e os animais. Foi uma manhã magnífica.
E prossigo viagem para o meu destino de hoje: Santo António.

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