010 – São Miguel, 4º dia – Remédios (Lagoa)

Hoje é sábado, 4 de julho.
Despertar às 5h20.

Estou a comer muito pouco ao pequeno-almoço. Comi as quatro torradas e uma fatia de queijo. E um bocadinho do bolo. O resto ficou tudo. A Rossana disse para eu levar, mas eu não levei. Deve ir tudo fora por causa da Covid, é uma pena. Hoje guardei o sumo (que não está na foto) e o pêssego, vou deixá-los no meu quarto, para o final da tarde. Não sou amiga de comer pão durante o dia, enche muito e alimenta pouco. Preciso de vegetais, fruta, carne, peixe.
Pedi para trocar o ovo por um iogurte, será amanhã. Já desisti de comer ovos, não me apetecem este ano, é curioso.

Hoje o destino é para baixo. No segundo dia fui para a esquerda, para as Sete Cidades; (o primeiro dia foi o da chegada de avião e andei pela Ribeira Grande); no terceiro dia fui para a direita, e agora no quarto dia vou para baixo. Vou visitar uma vila chamada Água de Pau. O Maps.me diz que é cidade, mas é vila.

Sobre esta localidade referiu Gaspar Frutuoso:
“Água de Pau assim chamada porque, segundo alguns, indo por ali os antigos descobrindo a costa do mar, acharam uma ribeira que caía de um alto e não sabiam determinar se era pau, se água, mas chegando mais perto viram ser água que corria por um pau que ali estava derribado. Mas, segundo outros mais certos, vendo os primeiros descobridores da ilha cair pela rocha a água desta ribeira, curva e arcada, para o mar, lhe parecia pau por onde a água corria, e uns apostavam com os outros que era pau, outros que era água, até que chegando mais perto viram ser ribeira, e pela diferença que tiveram sobre ela, se era pau ou água, ainda que por pau não corria, lhe chamaram Água do Pau.”¹

Recordo, sobre Gaspar Frutuoso, a visita ao seu túmulo no cemitério da Ribeira Grande, na crónica 6. De forma imprevista deixei-lhe as minhas homenagens. Bem hajas, Gaspar Frutuoso.

Neste mapa do Maps.me verifica-se o seguinte: eu estou na Ribeira Grande, onde está a seta azul. Vou para Água de Pau, onde está a bandeira axadrezada. Escolhi o caminho pedestre e não o das bicicletas (o “peão” na parte de cima está selecionado), porque senão manda-me pela estrada principal e eu não quero. Vou arriscar novamente o caminho pedestre, portanto, e seja o que Deus quiser. Na parte de baixo, a linha azul indica a elevação: são 15 km com uma subida acumulada de 230 metros. O Maps.me estima que eu leve 3h58 minutos a chegar – a pé – mas eu estou na bicicleta e supostamente será mais rápido.
São 6h45 e vai começar a aventura de hoje.

Como pedi ao Maps.me um caminho pedestre, ele manda-me por aqui. Em contramão. Mas está tudo deserto e eu pedalo pelo passeio.

Igreja de São Francisco, do século XVII.

O Museu de Artes Contemporâneas.

Cansei-me de andar em contramão e mudei temporariamente para um percurso de bicicleta. Mandou-me logo para a estrada principal. Com carros já a passar a toda a velocidade. Uf. Voltei novamente para o pedestre.

Igreja de São Pedro, dos séculos XVIII e XIX.

Ermida de Nossa Senhora do Bom Sucesso, do século XVIII. Repare-se no pão pendurado na porta da casa ao lado. Passei por muitas portas com o pão pendurado.

Passei por umas vaquinhas, mas eu ainda ando com medo dos cães, e nem parei para tirar fotos. Não há cães nenhuns! Mas eu não sei como é isto aqui em São Miguel. Estou em locais desertos, com vacarias, podem haver cães de guarda. Eu chego silenciosamente na bicicleta e eles não dão conta. Quando eles – e eu – dermos conta, já estamos em cima uns dos outros e sem possibilidade de fuga. Mandei inclusivamente parar uma carrinha e perguntei “Sabe se há aqui cães, neste caminho? Posso ir à vontade na bicicleta?”. As pessoas não sabem. Só passam de carro e não sabem. Pelo que fui a medo. Mas não houve cães absolutamente nenhuns em todo o caminho. Aos poucos irei ganhando confiança.

Posto de entrega de leite.

A entrar na freguesia de Remédios. Tudo isto é o caminho pedestre indicado pelo Maps.me. Estão completamente a leste do paraíso, na mapeação dos Açores. De bicicleta não me manda por aqui, considera que não é fazível. Só me manda pela estrada principal.

São 8h24, e eles fazem uma algazarra que eu comecei a ouvir logo lá em baixo.

Hoje já venho de manga à cava. Ontem fiquei com a marca da tshirt nos braços. Já não me engana, hoje. A meteorologia diz sempre “nublado” – com nuvens brancas e o sol a espreitar. Mas quando aparece, o sol queima que se farta.


¹ “Água de Pau” (s.d.) Wikipedia. Página consultada a 23 setembro 2020,
<https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81gua_de_Pau>

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