003 – São Miguel, 2º dia – Lagoa do Canário e Miradouro da Grota do Inferno
Hoje é 5ª feira, 2 de Julho de 2020.
Despertar às 6h.
Às 7h15 vem o taxista Rui buscar-me para levar-me, a mim e à bicicleta, ao topo das montanhas: mais precisamente à Lagoa do Canário. A partir daí eu descerei e andarei pela Lagoa das Sete Cidades. Tenho previsto fazer a cumeeira na bicicleta. Trouxe uns caminhos de BTT gravados no meu GPS. Fiz download do site “Visit Azores”. Por enquanto este site ainda está muito incompleto, nas 9 ilhas apenas apresenta percursos em 4. Dois ou três percursos em três ilhas, e aqui em São Miguel tem 8 percursos, e outros pequenos de 1 km cada. Também existem outros sites como o “All Trails”, onde os ciclistas carregam os seus prórios percursos e os partilham com outros utilizadores, e onde ainda perdi umas horas a pesquisar. Neste site é difícil, são 9 ilhas, leva horas e horas de pesquisa, e depois os caminhos podem não se adaptar propriamente ao que preciso. Uma coisa é morar aqui e ir dar um passeio, outra coisa é andar em viagem e precisar de deslocar-me dum ponto exato para outro ponto exato. Recorri portanto à minha aplicação favorita (e gratuita): Maps.me. Usei-a em São Tomé e Príncipe, e vou usá-la agora nos Açores também. Mal ou bem, desenrasca-me. Eu estou aqui e quero ir para ali, digo-lhe eu. E a aplicação traça-me quatro tipos de caminhos: pedestre, BTT, carro, e comboio ou metro. Claro que esta última não se aplica aos Açores, onde não existe nem um nem outro.
Esta sala fica no andar de baixo, do meu quarto, e é partilhada com outros hóspedes. Mas eu serei a única hóspede, durante a minha estadia. Em inícios de julho a pandemia ainda se faz sentir bastante. Praticamente não há turismo.
Levámos 45 minutos, e fizemos 45 km. Bem que podia esfalfar-me para aqui chegar na bicicleta. São 8h. Paguei 35€. O Governo dos Açores tem um tarifário de táxis publicado, e o taxista Rui cobrou o valor certo, e ainda podia ter-me cobrado mais 2,5€ pela bicicleta.
Os pássaros cantam. Há uma vida enorme aqui. Tudo brilha, apesar de ser tão cedo e de ainda haver pouca luz, sobretudo estando nublado. Não há ninguém aqui. Sou a única pessoa. Há silêncio absoluto – se é possível ter silêncio com os pássaros a cantar. Deixo um vídeo de 22 segundos, desta linda Lagoa do Canário, às 8 da manhã.
Vou agora ao Miradouro da Boca do Inferno, ou como é conhecido por aqui: Miradouro da Grota do Inferno. Creio que o Maps.me estará baralhado com os tempos. 34 minutos seria o tempo que eu levaria a pé eventualmente. Na bicicleta não levo 34 minutos para fazer 1,2 km. Ou então já me conhece e adaptou-se ao meu ritmo, pois com tantas paragens se calhar até levo meia hora, nunca se sabe.
– Tens alguma coisa para mim, Rute?
– Olá passarinho! Não tenho nada!…
– Não tens bolachas? Todos os humanos têm bolachas.
– Oh passarinho, não, eu não trouxe bolachas…
– Então o que é que comes?
– Tenho duas barras de proteína, passarinho, e isto não é comida para ti.
– Porquê?
– Porque ainda ficas um hiper-pássaro!…
E o passarinho desistiu e foi-se embora. Eu arranquei na bicicleta.
Nesta viagem trago um novo brinquedo: este tripé. É moldável e agarra-se a tudo. Estou a estreá-lo. É a primeira vez que o uso e tem direito a uma foto de estreia. Há sempre quem me faça a pergunta da praxe: “Se viajas sozinha quem é que te tira as fotos?”. Fazem-me esta pergunta em tom agressivo, por vezes, insinuando que estou a mentir, que não é verdade, que não estou a viajar sozinha, porque alguém está a tirar-me as fotos. É uma pergunta bastante legítima, porém, quando feita com o tom correto. A minha própria mãe questionou-me sobre a qualidade das fotos, quando as viu pela primeira vez.
Selfies! Então mas nunca tiraram uma selfie? Não têm um stick para selfies no telemóvel? Eu tenho o modo de auto-disparo na minha câmara fotográfica, além das selfies no telemóvel. E agora tenho este tripé para ajudar na posição da câmara. Efetivamente tenho a câmara programada exatamente da mesma forma que tive em São Tomé e Príncipe: ao fim de 20 segundos começa a disparar. E tira 9 fotos seguidas, com um intervalo de 5 segundos. Alguma há-de ficar bem.
Portanto, respondendo à questão – legítima, quando colocada no tom correto – eu sempre tirei selfies. Outras vezes peço a alguém para tirar-me as fotos (havendo gente! Como foi o caso da crónica anterior, na Ribeira Grande). E agora este tripé vem revolucionar as minhas selfies. Este tripé é leve e prático e irei mostrá-lo ocasionalmente, em funcionamento, no decorrer destas crónicas. Deu-me um grande jeitaço.
Esta bolinha gordinha observa a minha festa, eu contente neste cenário extasiante; e pôs-se a cantar. Este passarinho cantou de forma bem sonora e eu filmei-o. Podem vê-lo e ouvi-lo neste vídeo: pássaro a cantar no Miradouro da Grota do Inferno.
E que nome tão dramático deram a este miradouro de selfies e pássaros cantantes.
E prossegue a viagem! 🙂